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Publicado em: 23 Março 2018

O massacre

Artigo de opinião da Presidente do Politécnico do Porto.

Há oito anos consecutivos que dura a guerra na Síria. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, morreram 400 mil pessoas e 56 900 estão desaparecidas ou consideradas mortas. A guerra incapacitou 1,5 milhões de pessoas e, entre estas, 86 mil perderam membros. Desde janeiro de 2018, 1000 crianças morreram ou ficaram gravemente feridas (Unicef).

Cerca de 6,1 milhões de sírios tiveram de abandonar as suas casas e mais de 5,5 milhões foram forçados a deixar o país (ACNUR), ou seja, 53% da população síria teve de emigrar ou fugir.

A organização Médicos pelos Direitos Humanos registou 492 ataques a 330 instalações médicas até dezembro de 2017, dos quais resultou a morte de 847 profissionais.

Os números são imensos, aterradores. Mas são só números, que facilmente se perdem na sua dimensão abstrata. As imagens, os vídeos, os gritos das crianças a saírem dos escombros, os hospitais bombardeados, os homens que transportam cadáveres às costas..., essas são realidades mais próximas na sua tão semelhante humanidade, mas também terminam no fim do telejornal.

Há fome, terror sem fim na Síria. Agora em Ghouta Oriental, cercada desde 2013; antes, foi Alepo até à ruína total; mas também há morte a norte, onde a Turquia trava com os curdos um velho combate.

Tudo começou numa primavera árabe, em março de 2011: protestos pró-democracia reclamavam emprego, liberdade, direitos sociais e o fim de um regime ditatorial. Assad respondeu com mão pesada; a violência alastrou e o país mergulhou numa guerra civil. Mas não é assim tão linear e simples: há interesses particulares, negócios, agendas políticas de diferentes países em jogo (por entre grupos resistentes, sunitas vs xiitas, jiadistas como o ISIS ou a al-Qaeda) que ultrapassam o clássico xadrez da política internacional

Para lá da retórica discursiva que mancha de ética e humanidade as declarações públicas dos países no tabuleiro da guerra, esta continuará, até que a soma final resulte em ganho para cada um.

Para além de toda a dor que lhe marca o rosto, Guterres permanecerá impotente no círculo do Conselho de Segurança. A Europa, quieta, escuta ano após ano o zumbido das bombas barril, reforça a ajuda humanitária em apelos ao retomar das negociações de paz, avisa, e evita o odor do gás tóxico, a visão de um massacre.

Agora, que Assad controla a quase totalidade do território, durante 30 dias, numas parcas horas por dia, os corredores humanitários irão finalmente abrir-se e os despojos do horror sairão dos escombros.


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