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Publicado em: 26 Janeiro 2018

As altas montanhas de Davos

Artigo de opinião da Presidente do Politécnico do Porto.

Davos, uma pequena estância de esqui suíça, é o ponto de encontro, esta semana, do Fórum Económico Mundial. Mais de 3000 personalidades mundiais (70 chefes de Estado, alta finança, organismos internacionais, reguladores, líderes empresariais) reúnem-se, percorrendo uma agenda de assuntos recorrentes e cansados: ambiente, igualdade social, nova economia, etc.

Neste caldeirão de gente tão diversa, Davos mostra o seu quê de mundano, de desfile mediático, com as estrelas do show business a potenciar o alarido da conferência. Mas o centro ocorre, como sempre, nas negociações privadas paralelas ao fórum, onde se medeiam relações diplomáticas, interesses, ou nos documentos de trabalho que o antecedem onde se avançam esperanças, intenções de compromisso.

"Criar um futuro compartilhado num Mundo fraturado" é o tema aglutinador de 2018, um tema com sentido: "procurar melhores fundações para construir sociedades inclusivas, justas e solidárias, capazes de restaurar a dignidade dos que vivem numa imensa incerteza e são incapazes de sonhar com um Mundo melhor" (Papa Francisco, missiva para Davos).

Em 2017, pela primeira vez desde a crise financeira de 2008, a economia mundial cresceu na maioria das regiões do globo. Mas 82% da riqueza criada reverteram para o 1% da população mais rica; 3,7 biliões de pessoas, a metade mais pobre da população mundial, receberam zero de retorno da riqueza produzida. Mas não é tudo: a desigualdade é um pântano sistémico que tudo toca e aperta, acusando o desgoverno no ambiente, na exploração de recursos naturais ou tecnológicos, no acesso à educação e ao conhecimento. Um Mundo objetivamente fraturado, numa paisagem que se tornou global.

Poderá Davos fazer a diferença, como pretende Klaus Schwab, presidente do fórum, e redesenhar a economia, recompensando o trabalho mais do que a riqueza, num novo contrato social entre o trabalho e o capital? O fórum lança, neste sentido, um índice de desenvolvimento inclusivo que pretende avaliar a performance económica dos países (com 103 já incluídos) em novas dimensões (sustentabilidade, equidade...) e não o peso frio dos números.

Este seria um passo crucial para um novo caminho, demonstrando a viabilidade de conceções alternativas de desenvolvimento.

Mais do que slogans consensuais, inócuos, é preciso um programa de ação, articulando numa resposta integrada as diversas dimensões onde as fraturas de hoje se acentuam como feridas em expansão. Ou para o ano haverá apenas mais um fórum.


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