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Publicado em: 20 Outubro 2017

O que dizem as chamas

Artigo de opinião da Presidente do Politécnico do Porto.

Aconteceu de novo: as chamas, a dor e a morte, a impotência e a perplexidade, a insegurança e o medo, a incompreensão.

Abro o relatório sobre os incêndios em Pedrógão Grande e Pinhal Interior. Encontro um texto racional, fundamentado, repleto de factos documentados e analisados (sectorialmente e no seu todo integrado), onde não falta o desenho de soluções estratégicas bem definidas. Porém, duas tendências cruciais, que marcam de forma drástica as nossas políticas públicas, saltam à vista de quem o lê. Tendências estruturantes, porque endémicas ao modo de planear e agir, porque velhas e instaladas em toda a parte, há muito diagnosticadas mas não enfrentadas.

1. Falta de numa visão política integradora e colaborativa, patente na debilidade do desenho de estratégias políticas de planeamento estratégico e operacional, na ausência de articulação entre organismos públicos (e entre estes e outros stakeholders), favorecendo políticas conectadas e estáveis quer no âmbito regional, quer nacional. É crítico, neste aspeto, a volatilidade das orientações políticas ao nível de sectores onde a estabilidade é condição essencial de maturação dos modelos implantados e do seu desenvolvimento eficaz. A estrutura institucional da autoridade florestal nacional mudou seis vezes de figurino nos últimos 20 anos e quem gere a prevenção não está sob a mesma alçada institucional de quem combate. Em momentos de crise, como os incêndios, a desarticulação entre as diferentes entidades que operam em simultâneo no terreno (institucionais ou da sociedade civil) sem uma orientação articulada, "sem comando especializado" traduz-se em descoordenação, desaproveitamento de recursos, perda de eficácia.

2- Incapacidade de mobilização do conhecimento que possuímos para a resolução de problemas nacionais, incorporando-o de forma operativa nos organismos públicos, nas empresas, nas diversas esferas da vida. Falta conhecimento na recolha e tratamento de informação técnica, na tomada de decisões enformadas e inteligentes, no "suporte qualificado às intervenções operacionais", na formação das pessoas. O relatório é muito claro: "a integração do conhecimento com a ação deverá ser uma trave-mestra na organização futura do sistema".

Estas são, entre outras, lições de pertinência e valor transversal que têm de ser incorporadas em medidas governativas.

A memória dos que morreram, a segurança das pessoas, dos territórios e do país exigem-no.

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