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Publicado em: 07 Janeiro 2019

O bem-estar subjetivo das crianças em acolhimento

Artigo de opinião de João Paulo Delgado, docente e investigador da Escola Superior de Educação do P.PORTO

O objetivo deste estudo é explorar e comparar o SWB (Bem-estar subjetivo/ Subjetive well-being) das crianças que se encontram a viver em famílias de acolhimento e em casas de acolhimento, comparando-o com crianças integradas na população em geral. No passado mês de outubro, conclui-se a recolha dos dados através do preenchimento de questionários por três grupos de crianças com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos (40 crianças em Famílias de Acolhimento, 145 em Casas de Acolhimento e 238 na população em geral).

O SWB constitui uma importante dimensão no estudo da qualidade de vida das crianças. Nos últimos anos, têm sido realizados estudos regulares que analisam o bem-estar subjetivo das crianças incluídas na população em geral, no âmbito do Children World Project. Todavia, pouco se sabe sobre o modo como as crianças em perigo que são acolhidas, em famílias ou em casas de acolhimento, percecionam a satisfação com a sua vida. Este estudo adapta ao contexto português a pesquisa desenvolvida por Joan Llosada na Catalunha, intitulada "O bem-estar subjetivo de adolescentes em acolhimento na Catalunha", orientada por Ferran Casas e Carme Montserrat, da Universidade de Girona.

Para o desenvolvimento deste projeto, reunimos uma equipa multidisciplinar no inED, o Centro de Investigação em Inovação e Educação da ESE (Escola Superior de Educação), que tem desenvolvido vários estudos nos últimos anos, na área da proteção da infância e das medidas de colocação.

Os parâmetros do estudo que se associam a um alto nível e a um baixo nível de SWB são, nomeadamente, a estabilidade da colocação, a educação, a satisfação com a relação com os acolhedores e os pares, a relação com os pais, a realização de atividades de tempo livre, a existência de ruturas em experiências de acolhimento prévias, e as mudanças de escola.

A primeira análise dos dados permite concluir que o SWB das crianças acolhidas em casas de acolhimento é significativamente inferior à das crianças em famílias de acolhimento que, por sua vez, apresenta um SWB inferior mas próximo das crianças da população em geral. As dimensões onde o acolhimento residencial manifesta a maior distância relativamente ao acolhimento familiar são a casa e a zona onde moram. Estas são de igual modo as duas dimensões onde o acolhimento residencial manifesta a maior distância relativamente à população em geral.

Estes dados são particularmente relevantes após as recentes notícias na apresentação do Relatório Casa 2017 sobre o «congelamento» da medida do acolhimento familiar e da urgência de se implementar em Portugal um processo gradual de desinstitucionalização, de modo a proporcionar a um grupo significativo de crianças e jovens a resposta que mais necessitam para o seu desenvolvimento integral: a possibilidade de crescer em família.

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