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Publicado em: 01 Julho 2016

No labirinto do medo

Artigo de opinião da Presidente do Politécnico do Porto.

Numa crónica de 1999, Eduardo Lourenço dizia que "há uma boa vintena de anos que a velha Europa se esforça por superar o seu imemorial estatuto de Frankenstein político". Passaram anos e, ainda com E. Lourenço, poderíamos dizer que numa visão realista e otimista a Europa "é uma trama de forças económicas, de dispositivos de ordem financeira, administrativas e mesmo políticas de um nível de coerência notáveis, mas suspensa da concretização efetiva desse horizonte"(Dez, 2000).

2016 é seguramente o ano horribilis onde todos os sinais, há muito latentes, ganham a força esmagadora da realidade. Sobre todas as crises (financeira, económica, política), remendos e adiamentos, o drama dos refugiados e o "terrorismo" trouxeram o medo ao coração da Europa.

As consequências do Brexit são complexas e imprevisíveis; mas são-no menos o sentido do voto expresso pelos eleitores. A par do desconforto com os "burocratas de Bruxelas", do populismo obscurantista das promessas do UKIP - como reverter para o SNS "o dinheiro que vai para os cofres de Bruxelas" - o eixo polarizador da campanha foram os "outros" - os imigrantes por muitos responsabilizados pela absorção de empregos e pela descida de salários, pelo esgotamento dos serviços (hospitais, escolas), pelo desvirtuar da cultura e dos costumes, germes do terrorismo (Guardian, Times, Independent, BBC,…).

Depois da votação, os atos primários de xenofobia, violência e ódio, dispararam com uma intensidade não imaginável. Numa torrente cega, que ignora a história e as suas origens, uma parte dos ingleses está contra a livre circulação de pessoas dentro das fronteiras europeias.

Quem são estes ingleses? Segundo um estudo do "The Telegraph", muito divulgado, são os mais velhos, menos educados, menos urbanos e mais pobres; os menos capacitados para uma economia do conhecimento, um Mundo global e plural, condições irreversíveis do nosso presente.

Significa isto uma oportunidade para a Europa, radicada nos mais jovens, com mais educação, a geração Erasmus? Ou a caixa de Pandora, onde os problemas não resolvidos se encobriram, abrir-se-á na França, na Hungria, na Áustria... de modo a que o presente nos deixará sem futuro?

O regresso saudosista às velhas nações e fronteiras, ou a ideia de uma pequena Europa circunscrita a um grupo restrito, não é compaginável com um Mundo global, multipolar, com grandes potências emergentes, onde a ordem mundial exige outra escala e linguagem.

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