Para Álvaro de Campos, o heterónimo futurista de Fernando Pessoa, há tanta beleza na fórmula de Newton (x+y)n=∑p=0n nCp xn−p yp, como na suavidade de linhas da Vénus de Milo. Na mesma sequência de ideias, seguem-se múltiplas questões: como podem objetos tão díspares (desde o homem Vitruviano de Leonardo da Vinci à Sequência de Fibonacci) apresentarem a mesma Divina Proporção, tal como postulada por Fra Luca Pacioli? E obras como o Partenon, em Atenas, ou a “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci? Serão estes exemplos magníficos porque obedecem aos cânones do "rectângulo áureo", e por conseguinte, apresentam-se mais harmoniosos aos nossos sentidos? É possível matematizar uma flor e encontrar fórmulas racionais no objeto artístico?
Questões como estas e outras "provocações" foram o mote do desafio lançado dia 17 de dezembro por Carlos Fiolhais, eminente físico e professor universitário, que dedicou a segunda edição das Conferências do Politécnico à "Ciência e Arte, duas faces da cultura."
Esta iniciativa da Presidência do Politécnico do Porto, que pretende ser um espaço de diálogo entre múltiplos saberes, de partilha e cruzamento transdisciplinar, manifesta uma vontade explícita de ultrapassar os limites das escolas e áreas de especialização, elevando o discurso para mais além, para o domínio das aparentes antíteses e para a procura de "pontes" que unam diferentes domínios do saber.
"E que melhor espaço senão o Porto - a cidade das pontes - para debater estas questões" - declara com um sorriso Carlos Fiolhais na conferência realizada no Palacete Araújo Porto (Auditório D. Pedro IV) da Santa Casa da Misericórdia.
De Kepler a Ferchner, de Einstein a Marilyn Monroe, da geometria fractal à música das esferas, de Keats a Poincaré, foram muitos os temas abordados, cuja base bem poderia ser a teoria das duas culturas de Charles Percy Snow, que avalia a vida intelectual da sociedade ocidental como fraturada entre duas culturas - a ciência e as humanidades, referindo mesmo "um abismo de incompreensão mútua".
O debate continua e hoje, continuam a soar algumas das suas preocupações, sobretudo se centrarmos o foco na educação. "Por essa mesma razão" – declara Carlos Fiolhais – "provoco sempre os meus estudantes de Física: Já conhecem a Entropia? Agora só vos falta Shakespeare".