No Dia Internacional da Mulher damos voz às mulheres que recriam e inovam, todos os dias, o espírito disruptivo e inquieto da casa que já as acolheu, o Politécnico do Porto.
Hoje conhecemos a investigadora Ana Pires, alumna do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).
Ana Pires é a primeira mulher portuguesa a receber o diploma de cientista-astronauta no âmbito do Projeto PoSSUM (Polar Suborbital Science in the Upper Mesosphere), apoiado pela Flight Opportunities da NASA. Formada em Engenharia Geotécnica e do Geoambiente pelo ISEP, tem um Doutoramento Europeu em Geociências pela Universidade de Aveiro (Especialidade em Recursos Geológicos e Geoamateriais). Atualmente é bolseira de Gestão de Ciência e Tecnologia do ISEP e investigadora do CRAS, do INESC TEC. Apaixonada por explorar ambientes extremos, é Especialista Mergulhadora (Certificação SSI) e também foi selecionada para fazer parte da tripulação principal da equipa Pegasus para realizar uma missão análoga em maio de 2023 na Mars Desert Research Station (MDRS), localizada no Utah (EUA), que pertence e é gerida pela Mars Society. Desde 2018 tem feito esforços para promover o voo espacial humano, astrogeologia, tecnologia, robótica e atividades de divulgação STEAM em Portugal. Atualmente é Co-Chair of Knowledge Management do Space For All Nations (SFAN), uma iniciativa desenvolvida no âmbito do International Institute for Astronautical Sciences (IIAS).
Como mulher na área da engenharia, qual a receita “mágica” para ultrapassar barreiras e quebrar preconceitos?
Penso que não existe uma receita ou um caminho que seja o certo. Para uma mulher, um homem, ou qualquer género, o que é certo é seguirmos a nossa paixão, procurar o que nos move. No meu caso, a engenharia, muito dominada, há 20 anos, por homens, mas cada vez mais com mulheres a mostrar o seu valor em diversas áreas e até a chegar a lugares de topo. Essa evolução tem sido incrível e é gratificante ver mulheres todos os dias a quebrar esses preconceitos. É crucial trilharmos este nosso caminho, da forma como temos feito, um dia de cada vez, até todos os dias serem o Dia da Mulher.
Qual é para si o papel da mulher na engenharia dos dias de hoje?
Uma mulher na área da engenharia consegue, sem dúvida nenhuma, dar uma perspectiva diferente às diferentes soluções que um problema de engenharia tem. Essa inclusão e essa diversidade é imprescindível, não só na nossa área, como em todas as outras. O nosso papel é conseguir dotar as decisões de um outro pensamento crítico, outra sensibilidade, avaliando as várias dimensões, e mostrar capacidade de mudança, ao contrário do que a sociedade por vezes impõe. É esse o nosso papel, não necessariamente fazer melhor ou pior, mas diferente!
Como podem contribuir as instituições de ensino superior para capacitar as mulheres a fazerem o que querem?
Mostrar aos jovens e às jovens que existem caminhos diferentes que podem percorrer, profissional e académica, até cientificamente. Carreiras na política, legislação, ciência, tecnologia, entre tantas… Mostrar que a igualdade de direitos é mesmo possível, sem limites! Conhecer pessoas de referência, que inspirem a descobrirem quem são, quem querem ser, e para onde querem ir. As instituições também têm que se adaptar a esta nova realidade e procurar oferecer soluções de educação que estejam à altura das expetativas destes jovens. Que são cada vez mais exigentes, e ainda bem! Devemos procurar a a excelência na vida.
Qual a diferença entre as lideranças feminina e a masculina nos dias em que vivemos?
Quando existe oportunidade para isso, e observamos de perto estes casos de liderança feminina, com equipas multidisciplinares, percebemos cada vez mais como esta diversidade é mesmo tão importante. A capacidade e o esforço que uma mulher coloca em tudo o que faz é impressionante, e saliento, uma vez mais, a visão feminina: uma visão quase de outro mundo, que é diferenciadora. E desafiadora! Em ambos os sexos, a liderança pode ser feita com qualidade, mas são experienciadas distintamente, com resultados também variáveis. E isso é bom! Queremos ver mais resultados desta liderança no feminino e não tenho dúvidas que temos muito a aprender.
A mulher pode ser um gerador de mudança? Em que área considera o seu papel mais importante — negócio, empreendedorismo, liderança?
Ao longo deste meu discurso, já falei muitas vezes da mudança necessária, de fazer a diferença, portanto reitero uma vez mais que a mulher pode realmente fazer a diferença em qualquer profissão e cargo. No meu caso, considero o meu papel na área da ciência, tecnologia e engenharia, importante. Todos os esforços que tenho feito, são no sentido de mostrar aos jovens que não precisam de ter receio destas áreas. E que, como em tudo na vida, é necessário esforço, empenho, dedicação, e acima de tudo paixão! É isto que me move, acordar todos os dias e fazer engenharia!
O que pensa quando se fala de “empoderamento feminino”?
Adoro! É preciso criar espaço para as mulheres e esse sentimento de empoderamento poderá ser inspirador. É através deste poder, vivido de várias formas e em diferentes áreas, que de alguma forma vamos abrindo portas, janelas, às mais jovens, outras gerações, criando consciencialização e reconhecimento.
Acredita que a sociedade está a evoluir no que concerne à igualdade de género?
Acredito, mas é de mais mudanças que precisamos, criar desassossego (como diria Zeca Afonso). Portugal é um país com tanto potencial, na ciência, engenharia, tecnologia, e temos de conseguir dar o último salto. Quem sabe, até à Lua! [Risos] Este salto só depende do nosso governo, das estratégias a adoptar neste sentido, da própria sociedade! Eu quero acreditar que um dia não iremos precisar de discutir sobre estas questões, que será um sentimento que nos abraçará a todos de uma forma intrínseca. Vamos prosseguir e fazer por isso, e não tenho dúvidas, que essa mutação, tem de vir de dentro para fora.
Que mensagem quer partilhar no dia de hoje?
Que todos os dias é o nosso dia, que todos os dias temos de mostrar as nossas capacidades e que o queremos fazer de uma forma natural, valorizando as qualidades da pessoa. Vamos esquecer o género… É para isso que quero contribuir e fazer a diferença, mostrar que cada indivíduo vale pelas suas qualidades e capacidades! E todos teremos as mesmas oportunidades, de trabalho, de evolução, de salário. Todos os dias, porque todos os dias é o nosso dia. Parabéns a todos e a todas que lutam todos os dias por fazer e trazer a diferença!
Gabinete Alumni do Politécnico do Porto
Marisa Barroca
T. 225 571 000
