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Publicado em: 05 Fevereiro 2019

Amor, Veneno e Ópera nas Conferências do Politécnico

Na 3.ª edição das Conferências do Politécnico, João Paulo André lançou o desafio “Vida e Veneno: Reflexões Químicas Sobre a Ópera"

Amor e Morte. É ao som da ópera Íris de Pietro Mascagni que João Paulo André lança o mote de uma reflexão química sobre a ópera, considerada “a obra de arte total”. No caso específico da ópera de Mascagni, falamos da ária Hino ao Sol, apresentada como “fonte de vida e luz”, que movimenta paixões e catalisa o enredo trágico, mas que é também "energia criada pela fusão dos núcleos de hidrogénio em hélio".

Das referências químicas evidenciadas nas paixões, desejo e sexualidade, à presença concreta da química na ópera, em venenos, poções e elementos alquímicos, o docente, investigador e autor brinda-nos com uma reflexão profundamente original entre ciência e arte. Com ele percebemos que a química está em todo o lado e que a ópera é um espetáculo muito mais rico do que "histórias em que o barítono ama a soprano, que ama o tenor".

Encontramos a presença de elementos mais ou menos objetivos que – explica - "estimulam a produção de serotonina e, consequentemente, a sensação de prazer graças a moléculas como a teobromina e o triptofano". E este composto pode explicar o “amor à primeira vista” como assistimos no O Cavaleiro da Rosa (1911), de Richard Strauss.

À imagem da edição anterior, João Paulo André cita a Teoria das Duas Culturas, de Charles Percy Snow, avaliando como a tradicional divisão do conhecimento em duas culturas (a humanidade versus ciência) é um obstáculo ao conhecimento, à epistemologia e à resolução de problemas. Não é por acaso que - exemplifica o autor - aquando da estreia, em 1768, do Der Apotheker de Joseph Haydn, o eminente químico Carl Scheele dava grandes contributos na ciência. O tema da farmácia é, aliás, muito recorrente no estilo em voga das comédias de enganos, “decorrendo grande parte dos seus enredos no ambiente do laboratório de farmácia”, Doktor und Apotheker (1786) de Carl Ditters von Dittersdorf, Il Campanello (1836) de Gaetano Donizetti, e Crispino e la Comare (1850) de Luigi e Federico Ricci. Nos libretos destas obras, encontramos intermináveis receitas, listas de medicamentos, produtos químicos, e claro, venenos. “Se 64% das óperas terminam em morte, pelo menos 20% destas são por envenenamento”, refere com um sorriso.

Estes pontos de contacto foram concretizados no livro “Poções e Paixões - Química e Ópera” (Gradiva, 2018) que, não por acaso, o autor dedica aos seus estudantes. “Humanismo e cultura literária são sempre enriquecedores para os estudantes de ciências”. Aprender sobre Agripina, Cleópatra, os Bórgias, ou a aparente morte de Julieta são outras formas de falar de cicuta, arsénico, mandrágora ou beladona.

A próxima edição das Conferências do Politécnico realiza-se dia 8 de abril com Luís Portela, que nos desafia a uma palestra designada da Ciência ao Amor – cuja fórmula química já “conhecemos”.

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