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Publicado em: 15 Dezembro 2017

Um ano com Trump

Artigo de opinião da Presidente do Politécnico do Porto.

Ao fim de 11 meses de mandato, Donald Trump conseguiu um feito notável: é o presidente americano mais impopular dos últimos 70 anos, com uma taxa crescente de descontentamento interno e externo. Mas é, incontornavelmente, a figura na paisagem.

Não há semana ou dia em que a sua vontade de poder, afirmação pessoal e domínio, não se manifestem, numa avalancha crescente de decisões casuísticas ao arrepio de qualquer linha estratégica ou ideológica visível, mas seguramente emanadas da capacidade mágica de sobrevivência de um animal de palco.

Trump é um performer, um manipulador de emoções treinado, um homem de negócios com espírito básico que percebeu, de forma notável e intuitiva, a centralidade dos média e das redes sociais no Mundo contemporâneo e o seu papel nuclear na construção de políticos e políticas. Seria possível Trump sem o Facebook ou o Twitter? O estratega digital da campanha presencial de Donald Trump, Brad Parscale, é perentório: "Ganhámos as eleições no Facebook". E quando questionado sobre o que facilitará o trabalho da administração norte-americana em 2020, reforça: "Continuar a tweetar".

As redes sociais são o veículo acéfalo de expansão do cânone das fake news e com ele a destruição da verdade como critério do juízo político. É como se entrássemos numa sala de espelhos, onde a noção de imagem inicial se perde num jogo de cópias falsas que mutuamente se anulam. Trump "joga aos dados" nutrindo uma teia de faits-divers criados, na qual é o gestor da "Realidade".

E há sempre a técnica de desviar ou baralhar pela explosão dispersa de ações: se a política interna o cerca sobre as relações obscuras com a Rússia, Trump declara Jerusalém como capital indivisível de Israel, baixa impostos, insulta os índios, apoia um abusador sexual como candidato ao Senado, ou tranquilamente abandona a UNESCO ou os Acordos de Paris no glamour mediático de um episódio de talk show.

O que convoca e provoca de pior na ignorância e frustração raivosa de quem o segue, na destruição da legitimação racional da ação política e dos seus valores, é irreparável na vida de milhões de pessoas para a paz e sustentabilidade do planeta.

Senhor da maior potência mundial, suportado num processo eleitoral democrático, Trump manipula e é manipulado, num jogo de interesses do qual também é instrumento, numa "ordem" paradoxal que nos cerca.

No fundo da caixa de Pandora, tarda esquecida a esperança. Alimentemo-la com a nossa voz enquanto o silêncio do inverno dura.


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