Em 2021 haverá no Mundo 12 mil milhões de dispositivos móveis conectados, 1,5 per capita. Estes são alguns dados do Relatório Visual Networking Index da Cisco, que nos confrontam com a aceleração vertiginosa que desenha o presente, recordando-nos que estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará profundamente a forma como vivemos e trabalhamos.
Mas a velocidade da mudança não se faz sentir de modo idêntico nas esferas do trabalho e da economia. Na última semana, a OIT, no Relatório Global sobre os Salários 2016/17, alertou para forte polarização salarial, com graves desníveis quer dentro das empresas (assimetria entre os ganhos remuneratórios de topo e os de base), quer entre empresas (as que praticam salários muito baixos vs. as mais equilibradas), quer, ainda, pelas discrepâncias de género. O FMI reconhece, num relatório de abril, que o investimento de receitas geradas pelas empresas, cada vez se faz menos em trabalho e mais em capital, como o tecnológico.
Portugal não só detém uma das maiores desigualdades salariais a nível europeu como é um dos países em que a proporção dos salários face ao rendimento nacional mais diminuiu, passando de 60% em 2003 para os 52% em 2014, com as consequências sociais conhecidas, das quais a pobreza infantil é seguramente a mais chocante.
O trabalho não é garantia de uma vida digna. 650 mil trabalhadores vivem com salário mínimo, colocando Portugal entre os dez países da OCDE com salários mais baixos. É significativo, neste domínio, o estudo promovido no ano passado pela Fundação Belmiro de Azevedo onde ressalta, como conclusão maior, que o mercado de trabalho existente não potencia a necessidade de melhores qualificações, antes perversamente reforça esta tendência.
Mas nem tudo é assim. Ter um curso superior ainda é passaporte para uma vida melhor. O aumento significativo de emprego ocorrido nos últimos trimestres de 2016/17 foi particularmente visível entre os trabalhadores com mais qualificações e as atividades de base tecnológica têm crescido expressivamente.
É impossível parar a revolução tecnológica em curso, conter em diques a globalização, o comércio internacional ou a mobilidade de gente e emprego.
A esperança reside no conhecimento. Se importa formar pessoas para novos contextos de trabalho importa, mais do que tudo, formar pessoas que pensem novos modos de organização do trabalho. E isso não se faz produzindo só tecnólogos, mas mentes cultas e críticas.
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